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domingo, janeiro 28, 2007

O Pião, o Coelho e a Animação


Desde o surgimento dos primeiros estúdios na primeira metade do século XX, o cinema de animação alcançou lugar de destaque no cenário audiovisual. Em seguida, a televisão se encarregou de popularizar ainda mais este gênero, mesmo que lhe tenha atribuído um caráter infanto-juvenil. Finalmente, as tecnologias computacionais amadurecidas ao longos dos anos 70 e consolidadas na década seguinte permitiram à animação um novo avanço, seja ele de caráter qualitativo, resultado de uma maior liberdade artística advinda das facilidades produtivas, como também em termos quantitativos, com a polarização de vários novos artístas. O Brasil não ficou à margem desse processo. Conforme atesta o professor Antonio Moreno em sua obra "A experiência brasileira no cinema de animação", datada de 1978, em meio a inúmeras dificuldades, não faltou fôlego e inciativa para uma produção nacional.

Se seguirmos a linha da história em direção à era dos brinquedos óticos, curiosos e intigrantes dispositivos precursores da animação, perceberemos que, apesar de constituirem especificamente uma categoria de aparatos técnicos que amadureceram a compreensão do fenômeno da "persistência retiniana", esses brinquedos ainda exercem fascínio àqueles que ingressam em um contato mais íntimo com essa forma de expressão artística. Sem dúvida alguma, a interação do aspirante a animador (ou mesmo daqueles que se lançam nessa área como pesquisador acadêmico) com esses "brinquedos" pode se tornar uma aventura bastante motivadora, sendo ainda facilitadora do entendimento dos princípios elementares da imagem em movimento.

Neste contexto, a realização de oficinas de brinquedos óticos com crianças e adolescentes se mostra bastante promissor, ainda mais quando se trata de escolas públicas. Tais oficinas podem despertar novos talentos para o desenho e a ilustração, associados à prática inicial da animação em sua alternativa mais despojada e de baixo custo. Considerando mais uma vez o cenário brasileiro, uma mobilização neste sentido seria uma vertente social da animação, com uma contribuição bastante interessante no despertar desta arte, sem enveredar pela sedução da tecnologia dos computadores como prioridade, mas sim visando à expressão e à criatividade das crianças, diante da imensa variedade de contextos culturais do país.

Uma excelente referência para estas atividades é o texto da autora Raquel Coelho "A Arte da Animação". Sua obra aborda a história e os princípios da animação de forma clara e despojada, com uma linguagem simples e direta, direcionada ao público infanto-juvenil. A riqueza das fotografias é um detalhe ímpar nesta obra que retrata vários trabalhos da autora. Como se não bastasse, o livro traz um encarte instrucional para a montagem de uma série de brinquedos óticos a partir de materiais simples e acessíveis à garotada, ao menos àquelas situadas na faixa etária dos 10 aos 100 anos.

Na verdade, o trabalho realizado poir Raquel Coelho mostra-se único, seja no tratamento do texto como também na escolha do seu público. É evidente o olhar e o respeito da animação como uma manifestação artística, bandeira também defendida pelo professor Alberto Lucena Jr. Nestes esforços, termos como "expressão", "magia" e "diversão" são mais que suficientes para despertar a paixão pelo fantástico mundo da animação. Ao contrário do velho "pião" (brinquedo artesanal comum no nordeste brasileiro) que foi reduzido ao status de B(e)ayBlade, repleto de luz, sons e outras tentações eletrônicas, distanciando-nos cada vez mais de uma série de valores lúdicos, com a animação é possível fazer diferente. Conforme abraça Raquel Coelho, temos aí uma magnífíca oportunidade através dos brinquedos óticos. Mas é preciso agir antes que "animação" seja sinônimo de Flash, 3D, Rendering, Shading etc.

Convido a todos para um passeio pelo texto da autora e para aqueles interessados nesta tarefa um site interessante sobre estes brinquedos e seus criadores é o da
Escola de Ciência e Matemática da Carolina do Norte (NCSS). Nele, é possível viajar pela história dos binquedos óticos, desde a Laterna Mágica até o Praxinoscopio de Charles Raynaud. Há exemplos dos mesmos, incluindo imagens interativas e vídeos demonstrativos.
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O pião entrou na roda
Ô pião
Roda pião
Bambeia pião
Sapateia no tijolo
Ô pião
Roda pião
Bambeia pião

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