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terça-feira, janeiro 30, 2007

Blackton e o "The Enchanted Drawing"

James Stuart Blackton foi um típico representante do chamado lightning sketches, atividade em que o desenhista tinha sua performance filmada mediante um engenhoso plano de efeitos de truncagem - susbstituição por parada de ação.

Esse fenômeno marca, para muitos autores, o surgimento da animação e desfruta de grande aceitação pelo público do início do século 20. É bem verdade que essa prática não se ajuste plenamente ao conceito mais formal de Cinema de Animação em que o movimento é obtido ou elaborado passo a passo, ao contrário do cinema de ação direta. Na verdade, Blackton desenvolveu uma espécie de hibridismo em seu desenho: performance ao vivo seguida de truncagens tal qual Melies. Entretanto, é com Blackton que temos, de fato, esta técnica aplicada ao desenho. Sem sombra de dúvidas, temos ai o marco inicial deste gênero de cinema. Em sua obra "Humorous Phases of Funny Faces", de 1906, vemos, desde os créditos de abertura, uma animação mais vigorosa, fato que responde satisfatoriamente a questão levantada no título desta postagem.

No filme acma é possível perceber o grau de criatividade de Blackton. O "The Enchanted Drawing" de 1900, traz efeitos que ainda hoje nos despertam curiosidade, mesmo com a fácil compreensão de sua realização. A retirada da garrafa do quadro negro é o auge do filme. O interessante é perceber em qual momento se dá a parada da filmagem. Neste caso, assistimos a uma subversão da técnica da parada (base do stop motion) para a criação de pequenas surpresas visuais. Não há enredo propriamente dito e a "brincadeira" se resume às surpresas citadas.

O truque por trás de "The Enchanted Drawing"

O filme tem duração de aproximadamente um minuto e meio. De início Blackton desenha sua cria, em seguida uma taça e uma garrafa de vinho. A partir de então lança mão das "paradas" e interage com o desenho com uma continuidade espantosa. A retirada da cartola da cabeça do senhor segue a linha da maestria, pois não percebemos falhas no encaixe dos desenhos. O planejamento de Blackton é esplêndido, e deixa muita gente de queixo caído, mesmo com as facilidades da tecnologia de edição de vídeo digital. Finalmente, os objetos são devolvidos ao desenho.

É conferir para crer, mas lembrem-se de que o ano é 1900.

domingo, janeiro 28, 2007

O Pião, o Coelho e a Animação


Desde o surgimento dos primeiros estúdios na primeira metade do século XX, o cinema de animação alcançou lugar de destaque no cenário audiovisual. Em seguida, a televisão se encarregou de popularizar ainda mais este gênero, mesmo que lhe tenha atribuído um caráter infanto-juvenil. Finalmente, as tecnologias computacionais amadurecidas ao longos dos anos 70 e consolidadas na década seguinte permitiram à animação um novo avanço, seja ele de caráter qualitativo, resultado de uma maior liberdade artística advinda das facilidades produtivas, como também em termos quantitativos, com a polarização de vários novos artístas. O Brasil não ficou à margem desse processo. Conforme atesta o professor Antonio Moreno em sua obra "A experiência brasileira no cinema de animação", datada de 1978, em meio a inúmeras dificuldades, não faltou fôlego e inciativa para uma produção nacional.

Se seguirmos a linha da história em direção à era dos brinquedos óticos, curiosos e intigrantes dispositivos precursores da animação, perceberemos que, apesar de constituirem especificamente uma categoria de aparatos técnicos que amadureceram a compreensão do fenômeno da "persistência retiniana", esses brinquedos ainda exercem fascínio àqueles que ingressam em um contato mais íntimo com essa forma de expressão artística. Sem dúvida alguma, a interação do aspirante a animador (ou mesmo daqueles que se lançam nessa área como pesquisador acadêmico) com esses "brinquedos" pode se tornar uma aventura bastante motivadora, sendo ainda facilitadora do entendimento dos princípios elementares da imagem em movimento.

Neste contexto, a realização de oficinas de brinquedos óticos com crianças e adolescentes se mostra bastante promissor, ainda mais quando se trata de escolas públicas. Tais oficinas podem despertar novos talentos para o desenho e a ilustração, associados à prática inicial da animação em sua alternativa mais despojada e de baixo custo. Considerando mais uma vez o cenário brasileiro, uma mobilização neste sentido seria uma vertente social da animação, com uma contribuição bastante interessante no despertar desta arte, sem enveredar pela sedução da tecnologia dos computadores como prioridade, mas sim visando à expressão e à criatividade das crianças, diante da imensa variedade de contextos culturais do país.

Uma excelente referência para estas atividades é o texto da autora Raquel Coelho "A Arte da Animação". Sua obra aborda a história e os princípios da animação de forma clara e despojada, com uma linguagem simples e direta, direcionada ao público infanto-juvenil. A riqueza das fotografias é um detalhe ímpar nesta obra que retrata vários trabalhos da autora. Como se não bastasse, o livro traz um encarte instrucional para a montagem de uma série de brinquedos óticos a partir de materiais simples e acessíveis à garotada, ao menos àquelas situadas na faixa etária dos 10 aos 100 anos.

Na verdade, o trabalho realizado poir Raquel Coelho mostra-se único, seja no tratamento do texto como também na escolha do seu público. É evidente o olhar e o respeito da animação como uma manifestação artística, bandeira também defendida pelo professor Alberto Lucena Jr. Nestes esforços, termos como "expressão", "magia" e "diversão" são mais que suficientes para despertar a paixão pelo fantástico mundo da animação. Ao contrário do velho "pião" (brinquedo artesanal comum no nordeste brasileiro) que foi reduzido ao status de B(e)ayBlade, repleto de luz, sons e outras tentações eletrônicas, distanciando-nos cada vez mais de uma série de valores lúdicos, com a animação é possível fazer diferente. Conforme abraça Raquel Coelho, temos aí uma magnífíca oportunidade através dos brinquedos óticos. Mas é preciso agir antes que "animação" seja sinônimo de Flash, 3D, Rendering, Shading etc.

Convido a todos para um passeio pelo texto da autora e para aqueles interessados nesta tarefa um site interessante sobre estes brinquedos e seus criadores é o da
Escola de Ciência e Matemática da Carolina do Norte (NCSS). Nele, é possível viajar pela história dos binquedos óticos, desde a Laterna Mágica até o Praxinoscopio de Charles Raynaud. Há exemplos dos mesmos, incluindo imagens interativas e vídeos demonstrativos.
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O pião entrou na roda
Ô pião
Roda pião
Bambeia pião
Sapateia no tijolo
Ô pião
Roda pião
Bambeia pião

sábado, janeiro 27, 2007

Animação e sociedade

Estava eu aqui pensando em animação...

A animação pode ser encarada também como ambiente para simulação? Explicando melhor...


Entendendo a animação - aqui me refiro a produção principalmente do desenho animado - como um "ambiente audiovisual" de condições herméticas e produzidas sobre total controle do seu autor, não seria factível pensá-la como um mundo fantástico - e consequentemente ideal - para a discussão de temas de relevância social?

Penso nisso quando também penso na responsabilidade social do comunicador - em especial o animador - para com o projeto político-ideológico da sociedade. Seja para cristalizar suas premissas e hábitos, seja para inserí-los num processo de reflexão e contestação.

Esse seria nosso papel? Recortar o que há na sociedade que desejamos perpeturar e valorizar, ao passo, que excluamos da discussão o que não nos serve como projeto de sociedade?