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terça-feira, março 20, 2007

Quando o silêncio fala

Filme animado com poucas falas, mas com muito a contar. Essa é a melhor maneira de definir "As Bicicletas de Belliville". Segundo o diretor do filme, Sylvain Clomet, sua inspiração para realizar a obra foi baseada em "A Guerra dos Dálmatas" e no "Os Aristogatas". Mas desenvolvendo de maneira detalhada o timing de cada personagem, para assim destacar suas peculiaridades. Uma técnica que, segundo ele, aprendeu na Escola Inglesa, e que diferentimente da Escola Americana basta um gesto para os personagens ganharem vida.

Para a equipe, trabalhar na produção do filme, é algo supreendente, e não importa se são 8h por dia, 5 dias por semanda ou até dois anos na mesma obra. Mas sim o que importa é a satisfação de ver na tela um pedacinho de cada um concretizado, é nesse contexto que percebemos o porquê de tanta emoção dos personagens em todo o filme.

Voltando para a criação da cidade, observamos que Belleville foi criada com o propósito de ser uma cidade real, verdadeira. No entanto, ela não deveria parecer com nada já idealizado. Sua idéia mistura Paris, Nova York e Montreal, e seu estilo arquitetônico é rico e muito interessante em todos os seus exageros. Ela retrata com afinidade o capitalismo, sobretudo o consumismo e o culto a comida. Daí apresentar seus personagens de maneira exagerada, desde suas formas até seus gestos. Somando-se a esse exagero observamos toda estrutura da cidade que nos é apresentada de maneira desproporcional. Uma exemplo simples é a seqüência do porto onde observaremos os navios com total destorção do seu tamanho.

Em relação a técnica utilizada, a produção se preocupou em realizar seqüências em 3D para gerar as cenas das bicicletas, carros, motos e dos barcos no porto. No entanto, Sylvain, diz ter tomado cuidado com a utilização dessa técnica para não conferir ao filme uma imagem sintética, clean, já que a intenção era uma animação 2D com efeitos 3D. Para tanto removeram toda a caracteristica de computação gráfica, para assim parecer que tudo foi feito à mão, viabilizando em muito o tempo de confecção do filme.

Outro ponto estudado de forma detalhada é o da escolha do background, que aparece de maneira diferenciada em cada seqüência, para expressar a emoção que o filme possui. Observamos isso nas seqüências da infância que, por retratar um sentimento de nostagia, possui tons sépios e bem delicados.

Na seqüência que retrata a chegada da noite em Belleville, seus tons são mais fortes e esverdeados, salientando o modo norte-americano e canadense de iluminação.

No que se refere ao silêncio empregado ao filme, a produção se empenhou muito em destacar seus personagens para superar essa falta de diálogos. Suas formas foram bem salientadas, demosntrando formas geometricas muito peculiares, possibilitando uma maior facilidade de leitura do filme, já que o silêncio não estar presente.

Por fim, a teoria maniqueísta observada no filme garante a cada personagem mais realidade. Isso alimenta a relação de identificação com o espectador, já que os personagens denotam fragilidade. E que como nós tiveram infância, história, sentimentos e obstáculos que precisam ser vencidos.

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